Aproveitando a notícia de que a motocicleta que o ator Peter Fonda utilizou no filme Easy Rider, de 1969, foi leiloada e arrematada por modestos R$ 1,35 milhões de dólares, vamos falar dela. A notícia pode ser verdadeira, mas a motocicleta, temos lá algumas dúvidas.

Além de ter protagonizado um dos filmes mais emblemáticos da contracultura dos anos 60 (o protagonista era o ator Peter Fonda, mas estamos falando de motocicletas e não de gente, certo?), a Harley-Davidson 1950 Panhead de "rabo duro" conhecida por Captain America ficou famosa, na época, devido ao filme, mas os acontecimentos que a envolveram posteriormente são tão polêmicos que a moto acabou se tornando um ícone. Sim, novamente o apelido Captain America era do Fonda, mas certamente ele era assim chamado por causa das cores da bandeira norte-americana que ele pintou no tanque de sua moto, que também tinha o mesmo apelido.

Para alguém pagar uma quantia dessas por uma simples motocicleta, deve-se ter total certeza de que se trata da mesma motocicleta de Wyatt, o personagem de Fonda, com a qual ele e seu amigo Billy (Dennis Hopper) tentavam cruzar o país da Califórnia à Louisiana, para assistirem ao Mardi Grass em New Orleans. Já dá para perceber que o título nacional está furado: “Sem Destino”. Eles tinham, sim, um destino.

Voltando à motocicleta, havia duas delas, idênticas, nas filmagens. Isso para o caso de uma das velhas senhoras falhar no meio da cena, ou mesmo sofresse algum acidente que arriscasse as tomadas. Eram duas Harley-Davidson hardtail dos anos 50 com motores panhead, que haviam sido usadas pela polícia e que foram compradas por 500 dólares. A personalização das motos foi feita pela dupla Cliff Vaughs e Ben Hardy, seguindo as orientações do próprio Peter Fonda, que queria aquela cara nacionalista, com a bandeira americana pintada no tanque e muitos cromados. Por isso o nome da moto era Captain America.

Ao fim das filmagens, uma delas foi destruída, em cena, e a outra foi roubada. A moto danificada foi reconstruída por Dan Haggerty e exposta em um museu, até ser vendida em 2001 para John Parham, que a manteve por 12 anos no National Motorcycle Museum de Anamosa, no Iowa. No ano passado, John vendeu a motocicleta para o colecionador Michael Einsenberg, justamente aquela que ele colocou à venda neste leilão. Não foi divulgado o nome do comprador. 

Mas a história não é assim tão simples. Haggerty também vendeu uma motocicleta idêntica, em 1996, para Gordon Granger, do Texas, e a autenticou. Depois disse que era falsa e que a verdadeira era só a que ele vendeu a Eisenberg. Bem confuso. E também sem muita certeza da veracidade de cada notícia divulgada desde 1969,já que também há notícias de que foi ele quem vendeu a moto para Eisenberg. O próprio Peter Fonda, hoje com 74 anos, diz não saber de toda a verdade sobre as motos.

Só que isso realmente não importa. Se quem pagou mais de um milhão de dólares por uma relíquia de Hollywood não está se importando se a moto é verdadeira ou não, o fato é que ela existe e representa perfeitamente o filme, que se tornou cult. Onde estaria a outra motocicleta? No acervo de um colecionador fanático, que não quer mostrar a ninguém? Ou foi destruída? E onde estarão as duas cópias da motocicleta de Dennis Hopper, também roubadas no fim do filme?

Por sinal, ele e sua motocicleta são muito pouco lembrados pela história. Muito se diz sobre esse ator e sobre o que ele andou aprontando após o filme. Uma das histórias é que, como ele não tinha a mesma habilidade de Fonda em uma motocicleta, a sua Harley foi menos customizada, para facilitar a pilotagem. As duas motos feitas para Hopper também foram roubadas após as filmagens.

Assisti esse filme apenas uma vez, curti as cenas com as motos mas não gostei do final, por isso nunca mais quis ver de novo. Mas as réplicas das duas motos estão por aí, aos montes.